As Divassas do Zodíaco
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As Divassas do Zodíaco
Olá, povos e povas. Nas épocas em que havia vida por aqui eu participei do RPG que o Yukito criou. Meu personagem se chamava "Sensei", era a adaptação de um personagem de uma história minha. Tempos depois, resolvi inserir e adaptar a história do próprio Sensei e encaixá-la de alguma forma na história original. O resultado da tentativa acabou ainda mais maluco que o original. Pra quem quiser ler, deixo algumas informações e o primeiro capítulo abaixo:
EDIT: o fórum tem limite de caracteres pra postagem, e a história é gigante, então deixo o link pra quem quiser acompanhar os novos capítulos toda segunda:
http://fanfiction.com.br/historia/605371/As_Divassas_do_Zodiaco/
P.S.: estarei atualizando a história todas as segundas sem falta.
P.S(2): agradecimentos à Kane que inspirou uma personagem importante e ajudou como pôde.
P.S.(3): agradecimento especial à Moira que permitiu que eu escrevesse uma história gigante, mas não estava deixando eu fazer uma postagem decente como eu queria até o momento.
- Informações/Extras:
Sinopse: Após uma série de acontecimentos inusitados, Sensei (um professor muito louco) acaba diante de uma saia justíssima sem shortinho por baixo: precisa adquirir uma informação importante (ou não) de uma tal de "Grande Bicha", que mora em um lugar chamado Santuário Vermelho. Mas para isso, terá de passar por uma grande e (bem) dura prova: atravessar as doze casas noturnas, protegidas por doze guerreiras-divas banhadas no glitter dourado como ninguém nunca viu antes.
Notas: Essa história parcialmente não me pertence, rs. O Sensei é um personagem original meu, as referências que parodiei pertencem aos seus respectivos criadores. O que fiz aqui foi a continuação de uma história original com a paródia de vários elementos provenientes de vários lugares, de cavaleiros do zodíaco a glee, passando por divas do pop e outras coisas mais. A ideia é (talvez) um dia dar um jeito de inserir isso na história maior do protagonista. Quem sabe, né? Por enquanto, fica aí a saga das doze divassas. Espero que vocês se divirtam lendo tanto quanto eu me diverti escrevendo!
- Existe mais SH do que parece nessa história. Moira/o destino/hitsuzen/o inevitável está sempre a espreita.
- Capítulo 1 - Sensei:
- Eu sou aquilo que conta. Mas quem eu sou não importa. Importa mesmo o que conto. E dessa vez, conto sobre um Sensei. Um Sensei apenas, pois não havia outro nome para chamá-lo. Se havia, nem ele mesmo sabia qual era.
Sensei era um “sensei” em todos os sentidos impossíveis: um mestre de qualquer coisa, um mestre de muita coisa, e um mestre de coisa nenhuma. Um professor. Um médico (de almas, quem sabe?). E em outras tantas coisas que não era mais um mestre, havia sido. Parecia agora uma história muito distante. Ele sabia que tinha acontecido e ainda acreditava (cada vez menos, mas acreditava) em cada detalhe surreal que tinha se passado em sua vida, mas pareciam ser passado apenas, e presente nenhum. A não ser por poucas coisas. Ele era mestre e aprendiz. Eu sou apenas aquilo que conta, e vou lhes contando aos poucos muitas coisas. Tenham calma. De apressado, já basta ele.
Sensei era um mestre em literatura, ensinava em uma escola, e se nem todos amavam seus métodos nada convencionais, ao menos a maioria o respeitava e não incomodava muito. Era um grande conhecedor de coisas ocultas e mágicas. Sabia muito mesmo sobre elas. Muito mais do que os outros imaginavam, por sinal. Mas não dizia muito aos outros sobre o que sabia. Tentou umas poucas vezes e o chamaram de doido. Autista. Esquizofrênico. Tentaram interná-lo uma vez (ou sete?). Aliás, o chamaram de doido tantas vezes que ele acabou endoidando em vários níveis. E apesar de doido, era são. E apesar de são, era louco. Com o tempo, tornou-se também mestre em ser louco e são ao mesmo tempo. E nessa sanidade na loucura, nessa loucura na sanidade, ninguém sabia dizer se era mais louco ou são, sabiam que era um bom sensei e o chamavam de Sensei, pois acabou nunca mais relevando seu verdadeiro nome para ninguém.
Talvez essa coisa de loucura não seja exatamente como vocês que me ouvem pensam que seja, essa coisa doentia e mesquinha que destrói qualquer lógica. Talvez seja uma lógica nova e diferente apenas. Os gênios que tinham outra lógica sempre acabaram sob o manto dos loucos, e se Sensei não era um desses, passava muito perto. Viu coisas com uma lógica totalmente diferente dos que as viram antes. Suspeito que a loucura seja algo mais para se acostumar com que para ser aprendida ou surgir do nada. É algo que já veio nos loucos e acorda em determinado momento. Se ele se acostuma com a loucura e a domina, vira um louco-são desses notáveis que vemos por aí. Se continua perturbado por ter sua loucura desperta, acaba ficando doente e parecido com os loucos que vocês tentam curar. Nem todo louco precisa de cura. Alguns já têm, na própria loucura, seu auto-tratamento. Bem, mas não sou aquilo que divaga sobre a loucura, e sim aquilo que conta. E ainda preciso lhes contar muita coisa sobre o Sensei.
Gostava de andar na chuva. Sobretudo, de sobretudo. E pensava sobre tudo enquanto fazia isso. Parece confuso, mas não é tanto se comparado ao que ele pensava tanto. Tanto é que, quando deixava uns de seus pensamentos altos sobre magias e afins escapar era novamente chamado de louco. E certamente seria se contasse para os seus alunos qualquer uma de suas aventuras. Eu sei que ele não é, e acredito que vocês também o saibam, então contarei a vocês o que aconteceu ao mestre aprendiz no “mundo cinza”, como ele costumava chamar. O mundo cinza foi, pouco a pouco, apagando as cores de Montris e Raitun da mente de Sensei. Montris, segundo ele, era um mundo paralelo que ele, na época nomeado de Raitun, havia salvo de forças das trevas chamadas ironicamente de “Luminus”. Deixou isso para lá com o tempo. Se era verdade ou não, talvez nem ele sabia mais dizer. Deixou tudo. Deixou até mesmo o cabelo e a barba, antes quase nulos, agora crescidos de um jeito levemente descuidado, arrumou um óculos falso para ter uma aparência mais séria, e acabou virando um Sensei em uma escola. E nem aquilo que conta sabe contar como tudo isso aconteceu sem que ele dissesse seu nome verdadeiro a ninguém, mas essa parte é, com certeza, a mais forte de toda essa história. Ninguém sabia o nome do Sensei, talvez nem ele mesmo. Achou que seu papel como Raitun havia sido cumprido e tudo aquilo sobre magia era passado e, quando presente, estava apenas na sua cabeça. Até o destino inevitável resolver lhe dar uma luz e algumas cores em pleno mundo cinza.
Aconteceu de noite. Chovia, e Sensei resolveu andar e deixar sua mente trabalhando sobre elfos, trolls e coisas do tipo. Assim seus pés o levariam pra onde ele deveria ser levado. Foi parar em uma rua escura e deserta com postes espaçados. O primeiro poste se apagou assim que Sensei pisou em sua luz. Bem, isso não seria estranho se o segundo e o terceiro postes tivessem feito o mesmo. E o quarto, o quinto e o sexto. E então o sétimo poste apagou, mas acendeu novamente.
- Ok...quem és tu, algum tipo de troll das sombras? Perguntou Sensei
- Hm... não. Só alguém que acha que você precisa clarear as ideias, mas está fazendo do jeito errado - respondeu uma voz feminina. Quase infantil.
Sensei olhou em volta e não viu ninguém. Se perguntou se era então a sua mente que tinha resolvido falar alto demais. Sua mente lhe respondeu que não falava tão alto assim, e nem tinha aquela voz, e o xingou. Então a voz falou novamente e ele percebeu de onde vinha.
- Olá, Raitundo! Finalmente achei você. Ou você nos achou? Não sei, só sei que agora as crônicas serão rápidas como um flash, num piscar de olhos! Ah, que bom! Eu lhe abraçaria agora se você não fosse se assustar com isso! Disse a voz novamente.
E então Raitun percebeu que a voz veio... do poste.
- Vi muitas coisas em minhas jornadas. Orcs, Trolls, Demônios, Aiodromes e até a minha própria morte, mas... um poste que fala... realmente... – e não conseguiu completar a frase. Em parte, por falta de palavras, em parte, pela revolta do poste.
- EU NÃO SOU UM POSTE! Gritou a voz em tom choroso.
- Então é algum tipo de metamorfo extremamente exótico, porque não importa por onde eu olhe, você parece exatamente com um poste, respondeu o professor dando uma volta no poste e o examinando atentamente por cima de seus óculos falsos.
- Volte pro hori- não não, poste. Volte pro outro poste e eu lhe mostrarei quem eu sou realmente.
Relutante, e com o cérebro viajando entre inúmeras alternativas e suposições, Sensei obedeceu. E viu o poste que havia falado encolher e sumir na escuridão chuvosa da noite. Ia se perguntar novamente se não era algum tipo novo de Troll que lhe perseguia, mas ouviu um “psiu” com a mesma voz de antes. Olhou em volta, mas não viu nada. E então ouviu outro “psiu” e percebeu que a voz vinha do chão agora. Então olhou pra baixo e viu um pequeno guarda chuva.
- Aqui embaixo mesmo. Poderia me dar uma carona pro andar de cima, Raitundo?
- Raitundo? Perguntou o professor, estendendo a mão pra calçada. O pequeno guarda chuva subiu em sua mão. E ele sentiu que tinha pés, e viu que na verdade era uma pequena garota quando elevou a mão a uma altura considerável. Não pôde ver muito por causa da sombra do guarda chuva sobre ela, mas viu que vestia algo como um vestido de Lolita com muitos babados e laços. E iria se permitir ficar ali viajando novamente em que tipo de criatura era aquela se ela não o tivesse interrompido novamente.
- Uhum, Raitun-do! As pessoas usam “-san” entre elas, os samurais usam “-dono”, e eu uso “-do” com você. Por que Raitun-do é mais fofinho.
- Vocês deveriam se preocupar menos com a fofura do meu chamamento... enfim, quem és tu, poste? Algum tipo de...
- Eu não sou um poste! Eu só me transformo em um. Eu sou Kane. Kane Villumna. E você é o Raitun-do! E precisamos ir, sabia? Está ficando tarde, e...bem, eu tenho medo da madrugada escura.
- Você é um poste. Ficar na madrugada escura é justamente o que você tem que fazer. E precisamos ir pra onde exatamente?
- Eu não sou um poste! E você vai descobrir. Eu vou te guiar – disse ela, pulando pro ombro direito de Sensei e se sentando. – Minha missão é te levar até o negão.
- Como assim? Que negão?
- Você vai saber quando chegarmos lá. Vamos?
- Não sei ainda por que deveria ir, mas vamos então. Quero entender o que é você e o que queres comigo exatamente.
- Capítulo 2 - Horizonte 37:
Raitun e Kane saíram andando pelas ruas escuras daquele lugar, com a pequena garota guiando o professor. Foram horas (ou ao menos a sensação foi essa) dela dizendo “por ali, Raitun-do!”, enquanto apontava pra este ou aquele lado com o guarda chuva, que emitia uma luz parecida com a de uma poderosa lanterna. Depois de tanto andar, achar que não estava indo pra canto nenhum e que ela era realmente algum tipo de minitroll das sombras, Sensei parou e perguntou revoltado:
- Ok, quando vamos chegar... nesse tal lugar onde você tem que me levar?
- Já estamos chegando.
- Você tem certeza?
- Uhum! Por ali, Raitun-do! – disse ela, e apontou pra direita com sua lanterna-guarda-chuva.
Sensei entrou em um beco apertado e foi parar em outra rua deserta à sua frente havia uma construção simples. A placa dizia: HORIZONTE 37.
- Chegamos! Chegamos! Viva! Estamos seguros aqui! Yey! – disse Kane, batendo palminhas frenéticas.
- Como assim “estamos seguros aqui?” E uau, você é realmente elétrica pra alguém do seu tamanho. Ah, mas você é um poste, então tem lógica em ser cheia de eletricidade...
- Não sou um poste!
E em vez de responder com outra provocação, resolveu entrar no lugar. Era um bar. Nem muito sofisticado, nem muito pobre, porém com uma aura esquisita e um cheiro familiar que ele não sentia há muito, muuuito tempo. Viu algumas silhuetas muito diferentes entre si em vários cantos do bar, e, na dúvida, resolveu se dirigir ao balcão.
- Olá... – respondeu o barman em uma voz sedutora – vocês não vem sempre por aqui... O que vão querer? E se me permitem o atrevimento que eu adoro ter, o que vieram fazer aqui?
- Leite. – Respondeu Sensei
- E eu vim trazê-lo até o negão! É minha missão. – respondeu a garotinha.
- Hmmm... então você gosta de leite, e você guiou ele até aqui por que o negão mandou... fecharam de cadeado heim... Já amo/sou vocês! Você não tinha vindo aqui ainda, mas pode voltar quando quiser, Raitun.
- Raitun-do! Repetiu Kane
- Ahn... você cometeu algum tipo de engano e... pera, como sabe quem sou eu? Quem diabos é você?
- Ah, meu filho, a gente sabe de coisas aqui que você nem imagina! E eu sou Stradomus. Ah, mas pode me chamar de Strass, tá? Peter Strass...o prazer é realmente todo meu, sabe... adoro... – disse o barman, se inclinando pra frente do balcão. Raitun não gostou muito disso, mas teve a oportunidade de observar melhor o rosto do barman. Por baixo da maquiagem pesada, do batom e dos cabelos pintados e rebeldes, havia algo que lembrava um rosto conhecido.
- Pera, você é aquele Str-
- Não, não não... eu sou o irmão dele. A família Stradomus é uma família de mordomos. Então enquanto meu irmão gêmeo caretão seguiu o negócio de família eu abri minhas asas. Precisava voar, sabe...
- Sei... – disse ele, tomando um gole do leite (com achocolatado por cortesia da casa, ou seja, do barman) que acabara de ser servido pra engolir junto aquela história toda. Primeiro um poste-garota, agora um barman pansexual revoltado com a família. “Ao menos em Montris as coisas tinham uma lógica própria, porque não vejo nenhuma aqui até agora”, pensou.
- Ei ei, e o negão? Como ele tá? Tá tudo bem com ele? Eu tô com saudade, e eu cumpri minha missão, e eu quero minha recompensa! –falou quase de uma vez Kane, o que provocou uma risada alta e debochada em Stradomus.
- Isso é que é vontade de ver o negão, heim, fia? Vou lá chamar ele. Já volto, tuntun!
Apesar de não estar gostando nem um pouco do rumo das coisas, Raitun, ou melhor, Sensei parou para observar Kane e o resto do bar. Apesar de ser pequena, era grande o suficiente para que Sensei observar atentamente sua aparência e o que usava. E aquilo era algo que chamava atenção. Era como se fosse uma boneca de porcelana em um visual lolita: tinha uns 30 centímetros de altura, pele muito branca e cabelos castanho-claro, lisos e retos. Se fosse uma pessoa do tamanho de Sensei, ele diria que era uma garota alta e esguia de olhos curiosos. Um verde, outro azul claro. Usava um vestidinho esvoaçante de renda branca, em camadas, na altura dos joelhos, cheio de babados e laços. No pescoço, um colar dourado com algo que parecia uma micro bússola. Por cima do vestido, um bolerinho rosa claro com mangas bufantes. Nos pés, uma sapatilha de verniz preta com lacinhos. Usava ainda um chapeuzinho preto na lateral da cabeça com outro lacinho e uma bolsinha de algodão com estampa de cerejeira e um lacinho no fecho. Todos os lacinhos eram rosa. Um detalhe peculiar que ele já tinha percebido era seu guarda-chuva, ainda sobre o ombro da pequena garota. Emitia luz própria, como a de uma lamparina, iluminando a garota e o que estivesse em volta. Porém o que estava em volta não queria ser iluminado, muitas das vezes. Haviam silhuetas de todos os tipos nos cantos escuros do bar. Algumas pareciam criaturas conhecidas. Outras, sabe-se lá de que tipo eram. E o único ali no balcão era o Sensei Raitun. Pelo menos até o famoso “negão” aparecer. E ele apareceu com tudo.
Era realmente “ão”. Tinha uns dois metros de altura, e um sorriso enorme em um dos cantos da boca. No outro, um charuto cubano. Vestia-se completamente de preto: terno, camisa, gravata, calça, sapatos. Tinha a cabeça e a barba raspados e veio devagar o suficiente para o nosso Sensei notar todos esses detalhes. Tinha uma aura de mistério em volta de si, e um olhar misterioso voltado pra Sensei. Veio diretamente em sua direção.
- As crônicas de nossa história – disse, em uma voz grave, profunda e poderosa – finalmente podem começar!
- Se você me disser quem é você, e por que me chamou até aqui, talvez...
- Haddock James, Big James, Big Jay, J.,…
- Negão! Gritou Kane, pulando pro ombro dele e beijando-lhe o rosto.
- É assim que me chamam. Use o que preferir, e seja bem vindo ao Horizonte 37, Omni Raitun – disse James, estendendo a mão.
- Perdoe-me a curiosidade, mas... quem és tu? És de luz, de trevas? Algum tipo de demônio que quer me propor um pacto? Por que sabes meu nome? E por que fui trazido até aqui por um poste?
- Ei, não sou um poste!
- Não é pra menos que você tenha sido um aprendiz lendário. Sempre pergunta sobre tudo. Se sou de luz ou trevas, não sei, mas sim, eu lhe trouxe até aqui. Para um pacto? Talvez... – e olhando em volta para os olhares que começaram a notar a cena, disse – Talvez seria melhor conversamos no meu escritório, não?
- Acho que eu preciso pegar a katana mais vezes antes de sair de casa... – resmungou o Sensei, acompanhando o negão, sendo acompanhado pelo poste. Ou melhor dizendo, pela pequena Lolita.
O escritório era espaçoso e luxuoso em relação ao resto do lugar. Um sofá de couro negro encostado na parede. Do outro lado, uma enorme mesa de escritório com alguns papéis, uma estante, e, no canto da sala, uma pessoa.
- Seja bem vindo à minha cova.
- Você está morto?
- Um bom administrador precisar parecer que está e não incomodar os clientes. A não ser que os clientes estejam incomodando outros clientes...
Sensei olhou novamente o escritório, a pessoa no canto que lhe encarava, e James, que sinalizou para que se sentasse.
- Reformulando: eu preciso levar a katana e a raposa mais vezes quando eu sair de casa. – disse Sensei, enquanto se acomodava no sofá e olhava atentamente a figura em pé no canto da parede.
Se encararam. Continuaram se encarando. Pela visão periférica, Sensei percebeu que era negro, tinha um biotipo mais esguio que o seu, e usava um casaco vermelho, um chapéu também vermelho e óculos de lentes avermelhadas. Ficou tentado, mas não desviou o olhar para o que pareciam duas pistolas apontadas pra sua cabeça.
- Ele é o seu cão de guarda? Então eu realmente deveria ter trazido mesmo minha raposa.
- Não seria uma boa ideia. Ele é mais como um lobo faminto... – respondeu James, sempre em seu tom misterioso.
- Um motivo a mais pelo qual eu deveria ter trazido a raposa. Ela é do tipo que gosta de mostrar aos primos metidos que eles não são tudo o que acham que são dentro da família. Foi o que ela fez com o Fenrir, sabe, e olha que ele parecia o bicho de estimação do Forgoth, o senhor das trevas esquecidas. De qualquer forma, deveria ter trazido a katana. Ela resolveria o problema.
- Hmph, e você acha mesmo que poderia fazer algo com uma katana diante das minhas meninas? – respondeu o outro, alisando de forma quase doentia uma das pistolas – Espadachins não são nada pra mim.
- Acho que você não encontrou nenhum espadachim decente ainda, se eles perderam pros seus estilingues de ferro. As minhas meninas cortam dragões, balas são coisa de criança.
E o clima foi interrompido por uma gargalhada.
- O Kruba – e tossiu – O Kruba – e tossiu novamente, de tanto rir. Já recomposto, disse: - Este é Kruba Jenkins, mais conhecido como Headshot Kruba, ou apenas O Kruba. É o melhor dos meus coveiros. Mas, se suas meninas realmente cortaram dragões como contam as histórias, ele ganhou um péssimo concorrente, hein! – e riu novamente, de um jeito mais contido e misterioso – E você é mais engraçado que ele, de fato! Faria um grande sucesso no ramo da arte, ou da comédia, talvez no circo...
“Eu fui chamado de palhaço? Sou um palhaço então, não um professor?”
- Enfim... – deu uma pausa pra tragar o charuto e soltar uma cortina de fumaça pelo ambiente – Enfim, temo que a situação seja bem mais séria do que as piadas de vocês dois. Pelo menos vocês se deram bem, e isso vai nos ajudar muito.
“Onde??” Pensaram os dois.
- Não que isso tenha alguma relevância para mim, mas tenho que lhe dizer: seu destino inevitável está nas suas mãos. Sua existência, e talvez até muitas outras... Você é realmente o homem certo para o trabalho... – parou para outro trago – Sensei é como te chamam agora, não é? E você ensina sobre histórias e lendas, não? E gosta de viajar, pelo que sei. Conhecer coisas novas, entrar em aventuras sem rumo definido... mas acima de tudo, você gosta de uma boa história? Uma boa o suficiente para se tornar uma lenda?
Cansado dos rodeios misteriosos e da sua mente tagarelando teorias a cada palavra dita pelo anfitrião, Sensei respondeu: - Sim... esse é meu trabalho. Sim, gosto de viajar em vários sentidos... mas onde você quer chegar? Qual a “situação séria” para a qual eu “fui escolhido”? Por que eu?
- Qual é a graça de saber tudo antecipadamente? O grande charme de uma boa história é a virada surpreendente dos eventos. Por que estragar isso? Eu poderia te enviar a lugares que você nunca viu, a enfrentar situações totalmente inesperadas... você iria? Você sobreviveria? Me pergunto até onde você suportaria... – respondeu James, conseguindo ficar cada vez mais misterioso, se isso era possível.
- ... e por que diabos eu deveria ir, em primeiro lugar?
- Por que eu preciso de uma história... uma história que possa se tornar uma lenda. Muita coisa depende disso.
- Que coisas?
- “Informação confidencial”, como você costumava dizer. Você se atreveria?
- Eu me atrevi a ir para outro mundo, James. Eu me atrevo a ir para uma sala de aula todos os dias, James. Existe atrevimento maior que esse? E outra: você quer que eu faça algo por você sem ao menos me dizer seus motivos. É como se me chamasse pra sair mas não me desse nem um chocolate, pelo menos. Isso é meio forçado, sabia? – disse Sensei, derrubando o sorriso misterioso de James pela primeira vez durante aquela conversa. – Apesar disso, sinto que devo aceitar a sua oferta. Uma história, é? Uma boa história não depende de quais personagens são utilizados... e sim do que esses personagens fazem. Depende do jeito com que perfomam suas ações. Ainda é preciso fazer com que essas ações sejam entrelaçadas e contadas do jeito certo. Isso sim cria uma boa história. Trarei uma boa história, uma história que se tornará uma lenda, e a trarei vivo o suficiente para contá-la a você antes que você tire um cochilo, ou para rirmos e conversarmos juntos, não sei...depende de qual história eu vou encontrar e coletar... Então, honrada criatura que não é mago, troll ou algo do tipo, ainda preciso esperar mais alguma coisa? Talvez...entender por que o seu cão de guarda continua rosnando pra mim, talvez... escutar alguma recomendação final... é...talvez... talvez...não. Não... Ah, mais uma pergunta. Você vai ficar esperando a minha história aqui nessa cova rodeada de zumbis bêbados? – provocou, franzindo a testa e levantando a sobrancelha, enquanto encarava o anfitrião por cima dos óculos.
James encarou o professor por alguns instantes, deu mais algumas baforadas, e por fim disse, com um sorriso discreto:
- Você vai junto com Aikane, ela tem o que você precisa, e certamente vai iluminar seu caminho. O Kruba também vai com você. Me pergunto quão interessante é a história que você poderia me trazer...
- Também estou curioso pra saber. Então, em vez da minha katana e da minha raposa terei que carregar um poste e-
- Eu não sou um poste! – ouviu, em tom meloso
- Um cão de guarda que rosna pra mim...
Ouviu uma arma sendo engatilhada.
- Que ótimo. Presumo que devo ir agora, correto? – completou ele.
- Seria a hora perfeita. – Respondeu o negão.
- Até mais. Nos veremos em breve, “patrão”.
- ...será? – E ouviu outra gargalhada ao fechar a porta.
Ainda tentando absorver tudo aquilo, Sensei se dirigia a saída (seguido por Kruba), quando ouviu o barman chamá-lo.
- Psiu... vem cá, lindinho, tenho uma coisinha pra você!
- Ahn... pra mim?
- Sim, sim, um babado fortíssimo! Tem uma pessoa que quer ver você. Dá uma passadinha na Gleetering CherryPie e procura a Lady Unique, ok? – disse Strass, finalizando com uma piscadinha.
- Onde?
- Ela sabe onde é – apontou pra boneca. – Vai lá, vai ser um arraso. Vai que ela tenha exatamente o que você precisa, seja lá o que for?
- ... Ok... – “por algum motivo não gostei disso”, pensou ele, depois pediu direções à boneca.
- 3- Lady Unique:
- Depois de tantas conversas estranhas, Sensei saiu novamente pelas ruas, agora seguido de perto por Kruba. O pistoleiro não pronunciou uma palavra sequer durante o caminho, mas emanava uma visível aura negra de mau humor. Enquanto isso, Aikane os guiava com sua personalidade elétrica, apontando seu guarda chuva para um lado e para o outro, numa viração interminável de esquinas. Pelo menos até pararem em um beco sem saída.
- Você está com defeito, poste. Nos perdemos – disse Sensei.
- Não estou! Não sou um poste!
- É isso que dá deixar alguém como você guiar - resmungou Kruba, puxando as pistolas.
Sensei ia se perguntar o porquê de Kruba estar sacando as pistolas, mas entendeu quando olhou pra frente. Três homens mal encarados do tipo armário entraram pelo beco. Não disseram nada, apenas riram sarcasticamente.
- Heh... tem certeza que querem fazer isso? – Falou Kruba, apontando as pistolas para os três.
- Hoje é seu dia de ser empalado, fran- dizia um deles, quando caiu morto com uma bala no meio da testa.
- Eu avisei. Entendeu por que minhas meninas são top de linha? – disse, virando para Sensei.
- Uhu! Time Kruba 1 x 0 Time Lobos! Headshot! – gritou Kane
- Se as minhas meninas estivessem aqui eu já teria derrubado os três, cão de guarda.
Em um instante, os outros dois haviam se transformado, ficado maiores, peludos, com a cabeça de lobo. Suas garras partiram pra cima de Kruba, que começou uma luta acirrada com os dois, desviando e tendo suas balas desviadas.
- Ué, você não falou que suas meninas são top? Eu só precisaria de uma das minhas pra lidar com isso. Ou você tem pena de matar seus parentes? – provocou Sensei.
- Eu tenho o que você precisa! – disse Kane
- Sei...
- Eu tenho! O negão me deu tudo que você precisa! O que você precisa? É só você precisar e aí pedir o que você precisa que eu te dou o que você precisa, entendeu?
- E você tem uma, aliás, duas espadas, por acaso? Onde diabos você enfiaria duas espadas? Ou você por acaso invoca armas além de acender?
- Eu tenho! – disse ela, e abrindo a bolsinha, deixou sair duas espadas... de madeira.
- Uau...muito bom, mas... Eu achei que eu tinha dito espadas.
- São espadas! São as que você precisa!
- Por que diabos eu preciso de espadas de madeira?? Eu voltei à época de treinamento, por acaso? Tsc, quer saber? Eu estou esperando demais de um poste. Espero que isso funcione! – disse ele, colocando Kane em cima de uma lata de lixo tampada e avançando para um dos inimigos.
Espadas enferrujam com o tempo. O espírito de luta de um guerreiro não. Adormece, apenas. Acorda quando preciso. Apesar de ainda estar hibernando, por sorte, o espírito de Sensei era sonâmbulo. Conseguiu desferir um golpe forte o suficiente para jogar um inimigo alguns metros para trás, já desacordado. O último levou uma surra de espadadas e coronhadas, e fugiu.
- Uhu! Time Negão 3 x Time Lobão!!!
- Quantas balas esse troço tem? Apesar de você só ter acertado algumas, você atirou umas 37 e não recarregou...
- Não preciso recarregar. São pistolas amaldiçoadas. E de que madeira é feito isso aí? Você espancou o lobo e isso não quebrou.
- Sei lá, pergunta pro poste ali...
- Não sou um poste! E você não precisa mais delas! – disse Kane, abrindo a bolsinha e sugando as espadas de volta.
- Agora só precisamos chegar no...bem, no lugar onde precisamos chegar. Por acaso você tem um mapa ou um guia qualquer aí na bolsa?
- Já chegamos, Raitun-do! É aqui mesmo! – Disse ela, pulando pro ombro de Sensei e batendo em uma porta que até agora tinha passado despercebida.
Por uma fresta, dois olhos muito (muito mesmo) maquiados espreitaram os três e perguntaram quem eram, o que queriam, e se tinham algum passe.
- O negão mandou a gente!
- Hmm... lembro dele... se foram mandados pelo negão, né...
Abriram a porta para eles. Entraram. Era uma boate GLS. No palco, cinco drag queens fazendo uma apresentação de cancan, vestidas em estilo burlesque, usando maquiagem muito pesada. O lugar estava debaixo de uma iluminação avermelhada. Viram várias mesas pelo salão, e se sentaram na primeira que encontraram vazia a fim de observar melhor o lugar.
- Eu ainda mato aquele barman... Eu juro que ainda mato aquele barman – disse Kruba, com a mão no rosto.
- Pelo visto não é a primeira vez que ele faz isso contigo, heim, cão?
- Ele sempre faz isso...
- Então, o que faremos agora? Esperar por aqui até a tal da Lady Unique aparecer? – perguntou Sensei.
- Ah, vieram pela Lady, bonitões? Ela é sempre o prato principal. Vieram na hora certa, vai ser servido daqui a pouco – interrompeu uma mulher estonteante com uma voz grave, mas melódica.
- Linda, mas deve ser uma armadilha, né? – resmungou Kruba
- Certamente é uma armadilha, cão.
Não esperaram muito. Mas o show não foi bem como esperado. Uma das drags começou a importunar o trio, até que um leque acertou sua cabeça e começou outra música. Um travesti usando uma maquiagem pesadíssima, mas de porte extremamente elegante desceu do palco dançando e cantando, e emendou a coreografia com uma sequência de chutes na drag atrevida. Vestia uma cueca de couro e suspensórios, usava meias arrastão e luvas de couro, tinha o peito cabeludo e a cabeça ainda mais cheia de cabelos, cacheados, descendo até a cintura. Apesar do visual mais que exótico para Sensei, passava um misto de admiração e terror. Após aplicar a surra, e ainda apertando o enorme salto contra o peito da drag que sufocava no chão, apontou uma unha vermelha enorme para Sensei e os outros e disse:
- Esses são os convidados de honra da noite, sua bicha atrevida!
- Desculpa, Lady, eu só ia... – e não pode completar o raciocínio. Lady deu um último chute que tirou sangue da outra e colocou o salto em sua boca.
- Ia? Então vá se lascar! Ninguém toca nos MEUS convidados dentro da MINHA casa sem ganhar do bate cabelo comigo, e todos sabem que ninguém é melhor que a Lady Unique! Você tá bêbada, num tá? Por favor, né... melhore, viada! E vocês, me sigam. Tenho que ter uma... “conversinha privada” com vocês, sabe... babado fortíssimo.
“Bem, esse não faz questão de enganar ninguém com armadilhas, ao que parece...” pensou Sensei, enquanto acompanhava Lady Unique até o escritório. Quando todos se acomodaram nos puffs rosas com decoração de morango do escritório da Lady, ela sentou-se em cima da mesa, cruzou as pernas e pegou um cachimbo refinado, acendeu e deixou-o na mão.
- Então, meninos, é o seguinte. O negão mandou vocês pra um servicinho aqui comigo. Uma coisa que eu preciso muito, sabe... eu NECESSITO.
Os dois homens se entreolharam com a expressão “não estou gostando disso”, a Lady pareceu ignorar e continuou falando.
- Assim, se eu não tiver essa coisa URGENTE aqui o mais rápido possível meu negócio está correndo riscos. Eu estou correndo risco. Eu morro, sabe?
- Eu não sei se é uma boa ideia perguntar, mas... o que exatamente você precisa? – perguntou Sensei, arrependido desde a ideia de abrir a boca para falar aquilo.
- Eu preciso de...
E deu uma pausa pra tragar o cachimbo. O que vocês não sabem ainda é que a Lady era sádica e possessiva, queria ver se os dois suariam frio com o suspense. Não conseguiu muita coisa. Não que eles demonstrassem, pelo menos. Baforou desapontada, e soltou o resto da frase.
- kiki.
- Oi?
- kiki
- Que? – disse um
- Que? – e o outro também
- “Que” não, “ki”. Dois “ki”. Eu preciso de kiki. Urgente. Agora. Ou a Gleetering CherryPie corre um risco sério de falir, meninos. E vocês vão encontrar e trazer um kiki pra mim. Eu preciso ter um kiki urgente, senão eu morro!
Sem saber se poderia suspirar aliviado ou esperar algo pior, Sensei perguntou:
- Entendo... mas o que diabos é um kiki?
E após outra baforada, Lady explicou detalhadamente, com muito gestual e balanço de cabelo, como toda diva faria.
***
Esquerda, direita, em frente, direita, esquerda. Seria uma rotina qualquer de caminhada por aí, se Sensei não estivesse fazendo isso de madrugada, acompanhado de uma boneca em seu ombro e um pistoleiro mal-humorado de guarda-costas. Após meia hora de “por ali, Raitun-do”, entraram em mais um beco sem saída. Chegaram espancando duas criaturas que à primeira vista pensaram ser vampiros, mas perceberam que se tratavam apenas de Sucker Pixies. Sucker Pixie era um tipo de criatura que distorcia a realidade para apaixonar meninas indefesas e sugar sua juventude. Pareciam vampiros à primeira vista, se vistos de longe, mas eram notavelmente mais fracos e afeminados, além de brilharem quando expostos à luz solar e não se transformarem em morcegos.
Pararam em frente ao que parecia ser outra boate. O letreiro dizia em letras de LED:
“BOATE COSMUS – Filial Jamille et un babados
Missão santa com você: toda mágoa combater, despertar o seu “poder”
(Venha Cobra!)”
- É aqui?
- Sim, sim! – respondeu Kane
Sensei respirou fundo e entrou, seguido de Kruba. A princípio não viu muita diferença entre essa boate e a de Lady Unique, porém as roupas chamaram sua atenção. Muitas das atendentes e dançarinas usavam roupas coloridas, algumas poucas usavam roupas prateadas, e a que se apresentava usava roupa dourada. Seria uma espécie de hierarquia? Desistiu de pensar sobre, e explicou sua situação para uma das garçonetes, no intuito de conseguir alguma informação.
- Kiki? Ih... Meu amor, se eu fosse vocês nem tentava... A mestra é muito ciumenta com o que é dela.
“E o que é um Kiki, finalmente?”, é o que vocês estão se perguntando até agora, não? Sensei e os outros também se perguntaram o mesmo, e receberam a seguinte explicação de Lady Unique, confirmada depois pela garçonete:
“Um Kiki é o aprendiz da primeira dançarina, ou seja, da diva do lugar onde vou mandar vocês irem. Eu preciso de um Kiki, só ele pode resolver meu problema. Se eu num tiver um kiki eu morro. Enfim, a primeira dançarina de lá é a única que pode consertar roupas e saltos por aqui, mas é teimosa como uma mula. Não deve se chamar “Mulan” à toa, duvido. Enfim, preciso de um Kiki, meninos, urgente, meu salto especial quebrou! EU NÃO POSSO CONTINUAR A ME APRESENTAR SEM MEU SALTO ESPECIAL!” E mais algumas coisas do tipo, até cair em prantos e ser socorrida por outras dançarinas e ouvir várias vezes de Sensei que ele certamente traria um Kiki para consertar seu salto especial para poder se acalmar e retocar a maquiagem.
Ficaram no balcão por algum tempo, esperando o show da dançarina dourada. Ela estava usando uma capa branca, além de um colant dourado que cobria o corpo praticamente inteiro e possuía dois enormes chifres apontados para cima cobrindo seus seios. Terminado o show, desceu do palco e ficou encarando Sensei enquanto uma das garçonetes cochichava algo em seu ouvido. O lugar esvaziou rapidamente, sobraram apenas os três clientes e as dançarinas.
- Então vocês vieram até aqui só pra usar o meu Kiki? Saiam. Eu sou Sheyoncé, mestra da Jamille et un babados, e não vou sair dando o Kiki por aí pra qualquer um usar como bem entender. Se já entenderam, até a próxima. O show acabou, queridinhos. Tchauzinho, bye bye, au revoir, hasta la vista...
- Peraí... – interrompeu Kruba – Sheyoncé? Mas viemos atrás da Mulan...
- Pior ainda! Vocês além de tudo me confundiram com aquela ingrata! Passou longe, heim? A Mulan é a dona da Casa das Arianas. É lá no Santuário vermelho, no outro lado da cidade. Vieram na filial errada. Agora... tchau. Boa sorte com aquela ingrata.
- Sabia que a gente tava indo pro lado errado, - suspirou Kruba – nunca dá certo confiar na Kane...
- Então... pelo seu tom de voz, você tem alguma relação com a tal “Casa das Arianas”, correto? – perguntou Sensei
- Sim. A Boate Cosmus na verdade é uma franquia de boates. Existem várias casas espalhadas por aí, 12 casas especiais e outras agregadas, como a minha, a Jamille et un babados. Mas o nosso serviço é diferenciado. Além de ter a minha casa, faço o serviço extra de consertar roupas e saltos, mas só de clientes muito especiais. A diferença é que trabalho para fora, enquanto a Mulan só faz serviços internos. Então vocês de alguma forma acabaram vindo parar no lugar certo. Até porque eu sou a mestra dela, logo o meu Kiki é muito melhor. E vocês não iam conseguir nada com as Arianas.
- Arianas parece com “Aranhas”... – respondeu Kruba, depois de alguns segundos de reflexão profunda (leia-se devaneio).
- E por que você acha que tem “Venha Cobra” no letreiro?
- Sei lá. Porque, se aqui não é a casa das Arianas?
- Porque eu era a antiga mestra da casa das Arianas.
- Bem, desculpe... moça? Isso é legal, mas não importa para nossa questão. Nós só queremos o seu Kiki. Vamos ter que pagar por ele? – interrompeu Sensei.
- Não vou deixar que qualquer um colocar as mãos nele, mesmo que tenha tido o trabalho de vir até aqui apenas para isso. A tal da Unique até é top, pelo que ouvi falar, mas não tô pra fazer favor pra ninguém hoje não. Eu peço que vocês se retirem, a não ser que desejem mais... alguma coisa... – disse ela, andando em direção ao trio.
- Então, deixa eu só recapitular... – disse Sensei, tentando processar tudo. – Seu nome é Sheyoncé.
- Certo.
- Você é a mestra da famosa Mulan, a única que pode consertar roupas e saltos.
- Sim... Eu sou quem ensinou a Mulan a ser o que é, portanto apesar da fama dela ser maior e ela fingir que morri, ela não é a única. Eu faço muito melhor. Mas ela é recalcada e não admite que nunca vai conseguir me superar.
- Certo, certo. E você e ela fazem parte de uma rede de casas noturnas, e como serviço adicional consertam roupas e saltos para fora, mas você tem um Kiki melhor do que o da Mulan.
- Isso. Entendeu agora ou quer que eu desenhe?
- Não precisa. Eu aceitaria um beliscão pra ver se acordava dessa maluquice toda em que me enfiei, mas... estando num sonho maluco ou não, acho melhor ir na onda, já que já chegamos até aqui. Enfim, desculpe incomodar tanto, mas nossa cliente realmente deseja seu Kiki, nem que por uma noite, e estamos dispostos a enfrentar qualquer coisa por ele, não importa que seja uma Mulan teimosa ou a mestra dela.
Sheyoncé chegou mais perto e sentou-se ao lado de Sensei. E só então perceberam que na verdade ela na verdade era um homem muito feminino. Tão feminino que não dava pra saber se era uma mulher ou um homem. Parecia uma existência à parte no meio das drags e travestis que povoavam o lugar.
- Então vocês terão que lutar contra Sheyoncé, primeira dançarina, diva e mestra da Jamille et un babados.
- Eu já poderia ter matado você. Você está no alcance das minhas meninas, sabia? – disse Kruba, encarando Sheyoncé.
- Você também está no alcance das minhas. Acha mesmo que é macho o suficiente pra lidar com todas nós de uma vez só? Hmm...
- Tá, tá... Parem com isso – disse Sensei, suspirando e se levantando. – Alunos problemáticos, cão de guarda problemático, cliente problemático e agora inimigo problemático... Até o poste das ruas onde ando é problemático... O que mais eu poderia fazer questão de não pedir na vida? Você fica fora disso dessa vez, cão. Já que é o meu primeiro serviço, eu vou terminar isso sozinho, um a um. Assim evitamos mortes desnecessárias. Pistolas só sabem matar. Espadas só sabem cortar, mas as mãos de cortar só devem machucar para proteger algo.
- E o que suas espadas protegem? – Perguntou Sheyoncé
- Informação confidencial. Você pode ter ficado interessada em mim, mas não é recíproco, ok? Kane. – Estendeu a mão para a Lolita. Kane abriu a bolsinha, que cuspiu uma katana para Sensei.
- Oh, estamos evoluindo... agora é uma katana... – disse ele, desembainhando a espada - ...de madeira. Mas por que de madeira... Porque madeira, se katana... porque katana, se madeira... Até o poste das ruas onde ando é problemático... como assim uma katana só e de madeira... eu voltei aos tempos de treinamento? – resmungou, andando até o outro lado do salão.
Kruba pegou Kane do ombro de Sensei e voltou para o balcão, longe do amontoado de mesas que estava no salão, para evitar ser pego no fogo cruzado. As dançarinas restantes fizeram o mesmo. Subindo em uma das mesas, Sheyoncé disse:
- Eu sou Sheyoncé, mestra da Jamille et un babados, e serei sua oponente essa noite. Aliás quem é você mesmo?
Sensei apertou a katana na mão esquerda, virou a bainha da espada na outra mão, segurando-a como se fosse sua segunda katana, e entrou em sua antiga posição de combate, encarando a dançarina.
- Eu sou só um Sensei, nada mais, nada menos que um Sensei. Vim te dar uma lição de generosidade, Sheyoncé.
Ficaram em silêncio por alguns instantes. Sheyoncé puxou uma das cadeiras para cima da mesa e chutou em direção de Sensei, que a partiu com a katana. Nesse meio tempo Sheyoncé correu por cima das mesas e tentou chutar a cabeça de Sensei de baixo pra cima, mas também teve o golpe defendido, dessa vez pela bainha. Aproveitando a oportunidade, ele tentou emendar um golpe de katana na perna de apoio de Sheyoncé, que pulou rapidamente e golpeou Sensei no rosto com o bico do salto. Aproveitando a brecha, utilizou um de seus golpes secretos.
- Stardance Revolution! – Gritou Sheyoncé, enquanto “dançava” numa coreografia ritmada de socos e chutes em Sensei, que terminou em um chute com o solado do salto. Sensei foi lançado em direção à parede, batendo em algumas mesas no caminho.
- Tsc. Eu já teria resolvido. – Resmungou Kruba.
O lugar ficou em silêncio novamente por alguns instantes.
- Heh... eu já ouvi falar de “pisão no pé” quando se dança com alguém, mas nunca havia visto alguém ruim o suficiente para pisar o outro inteiro. – disse Sensei, se levantando com várias marcas de salto ensanguentadas. – Você também precisa de aulas de dança, Sheyoncé, mas não sei se sou o melhor professor para isso. Estou enferrujado. Ainda lembro...? Hm... talvez ainda lembre uns passos... vamos dançar, Sheyoncé da Jamille et un babados! – disse ele, em tom de quase delírio, se pondo em posição de ataque novamente.
- Como quiser, “Apenas um Sensei e nada mais que isso”!
Sheyoncé veio novamente por cima das mesas, e Sensei novamente defendeu o primeiro golpe com a bainha. Dessa vez, não tentou acertar a perna, derrubou-a acertando e quebrando a mesa. Continuou com uma sequência de giros e golpes com a Katana e a bainha, e terminou com um chute, que fez Sheyoncé cair por cima de outra mesa. Ela levantou com alguns arranhões, mas nenhum sangramento.
- Vamos acabar com a nossa lição por hoje. É o último exercício. É o último passo dessa coreografia. – disse Sensei, colocando a espada na bainha e ficando em posição de saque. Enquanto os dois se estudavam, os espectadores cochichavam entre si.
- Raitundo, não guarda a espada não! Ela ainda tá de pé doidinha pra te pegar! – Gritou Kane.
- O que ele pretende fazer? Ir na mão? Mas nem com a espada tá conseguindo... Que burro. – se perguntou uma das dançarinas.
- Pretende acabar com isso em um golpe só – interrompeu Kruba. - Aquela posição em que ele coloca a espada atrás do corpo e a mão perto do cabo deve ser a posição de ataque mais forte de um usuário de espadas. Eu acho, né. Vai saber, eu não uso... Acho que eles ficam daquele jeito pra poder usar um golpe rápido e forte pra derrubar seu oponente. Ou só pra se exibir mesmo. Enfim, os dois não vão aguentar mais que isso, apesar da líder de vocês parecer bem. É só aparência. Um autocontrole incrível do fluxo sanguíneo. O carinha também tá acabado. A questão é: o que é mais rápido, o chute da líder de vocês ou a espada dele?
Não precisaram esperar muito tempo para descobrir. Sheyoncé avançou novamente, não por cima das mesas, mas de frente, direto para o seu inimigo. O que se viu no instante seguinte foram várias mesas e uma dançarina voando até caírem em um amontoado no meio do salão. O que a dançarina viu no último instante, antes de ser derrotada foi um par assustador de olhos prateados. O que se ouviu foram as várias dançarinas fofocando.
- Pelos cachinhos de Afrodite, que espada é essa! UI!!
- MINHA NOSSA SENHORA DOS LEQUES, ME ABANA!
- Zeuzus, apaga a luz que eu não quero ver nossa diva sangrando não! Eco!
Kane mirou a bolsinha para a mão de Sensei e sugou a espada de volta. Estava acabado. Ele tinha conseguido o que queria.
- Reconheço a força da sua espada... – disse Sheyoncé, levantando-se com alguma dificuldade – Não precisamos continuar... vocês ganharam o direito de ter meu Kiki por alguns dias. Mas se não me devolverem logo não serei tão piedosa na próxima luta. Cuidado com essa espada e com meu Kiki, heim... ui...
- É, cuidado comigo que eu tô me achando depois dessa, heim! – disse uma voz de garota, depois de uma gargalhada. – Brincadeira, gente... se eu sou digno de algo é apenas por que minha mestra é ainda mais digna. – Completou. Dito isso, saiu de trás das cortinas do palco. Era uma menina de cabelos curtos, vestida de smoking, que olhou para todos e fez uma profunda mesura.
“Espera... é uma boate crossdresser? E por que ‘um kiki’ é uma garota”?, pensou Sensei. Deixou os pensamentos para depois e a escutou.
- Eu sou Kiki, meus caros clientes. O que vocês vão querer esta noi- mestra! Você tá arrasada, heim! Você se machucou mais do que pensei, uau, que espada foi essa pra te deixar assim?! – gritou ela, correndo até Sheyoncé e amparando-a. – Que es-pa-da! Foi você? – perguntou, olhando pra Sensei. – Olha... que espada, heim... mas você também ficou bem acabado. Pior que minha mestra. Olha, como minha mestra disse que vocês ganharam esse direito, eu vou ajudar vocês, mas não posso ir agora. Tenho que cuidar dela. E acho que você tem que se cuidar também. Que tal amanhã?
Assim resolvidos, visitaram Lady Unique no dia seguinte e conseguiram sua aprovação. Além disso, ganharam um pacote que deveriam entregar à James, como Sensei estava contando para o barman Stradomus.
- Hmm... Agora eu fiquei curioso sobre o poder dessa espada aí, heim...
- Ok. E então, eu deveria entregar essa encomenda para ele agora?
- Sempre trocado pelo negão... mesma coisa com o Kruba. Devia ter me acostumado... bem, ele tá com uma bonitona no escritório há algum tempo já. Se tá apressado, querido, por que não tenta bater na porta?
Sensei levantou-se e se dirigiu à “cova” sozinho. Kruba ficou no balcão bebendo um uísque duplo, enquanto Kane bebericava algum chá em uma xicrinha que havia tirado da sua bolsa. Mesmo distraídos, porém, não conseguiram deixar de notar a mulher de vermelho que esbarrou em Sensei na porta do escritório. Era morena clara, tinha cabelos pretos curtos, acima do ombro e alguns traços exóticos, como os olhos puxados com uma cor estranha de ametista. A altura (Sensei estimou 1,59 m) e o vestido decotado exibiam peitos imensamente atraentes para seu tamanho. Uma perna também saía por uma fenda do vestido, que tinha ainda um dragão bordado em forma de serpente. Ao esbarrar em Sensei, o encarou brevemente com uma expressão assustadora e saiu às pressas em cima de saltos enormes.
Enquanto o bar inteiro estava hipnotizado com a mulher de vermelho, Sensei estava paralisado com a cena que tinha via diante de seus olhos: havia uma faca cravada na barriga de James.
* * *
- É o que, gente? – disse Lady Unique. - Tô no chão, querido.
- Quê?
- Tô arrasada. Tô chocada... Como assim alguém tentou matar nosso negão... Ele tá bem?
- Sim, o barman ficou cuidando dele. E me disse que eu deveria voltar aqui com ela. – disse Sensei, e apontou pra sua acompanhante.
- Olá! Eu sou Kiki. E você só pode ser Lady Unique, com esse luxo todo...
- Ai, meu Kiki! Só meu por uma semana! Querida, depois eu acerto o preço com sua mestra, tá?
- Tá!
- Agora que você já tem o seu Kiki, eu preciso de uma informação.
- Hm... troca-troca a essa hora do dia? Adoro! Ok, eu troco o Kiki pela informação. O que você quer saber?
- Você sabe quem foi?
- Não faço ideia, meu amor, eu num tava lá! – disse, abrindo um leque e rindo com a boca tapada. – Ai, tá bom, eu falo, não precisa olhar feio assim... Esses boys que não sabem brincar, né, eu heim... Olha, pelo que você me disse, assim, considerando o estilo da roupa e o tamanho do silicone, deve ter sido a Fong Fong Camaleón.
- E onde essa tal Camaleoa se esconde?
- Hmmm... meu lindo, essa é difícil, viu? Arruma mais fácil, menino, escolhe aí uma pra você! O serviço é de qualidade, eu garanto! E se não gostar eu mesma resol-
- Não, não precisa resolver nada, só me dizer onde ela está.
- Já disse, meu filho, não faço ideia. Essa é difícil MESMO! Acho que só tem uma pessoa aqui que pode te dar essa informação.
Arrependendo-se por antecedência, Sensei suspirou e coçou uma sobrancelha antes de perguntar “quem?”, e aí a bicha respondeu “a grande bicha”.
Sensei imaginou uma bicha imensa, de viadagem imensa, com imensos níveis de purpurina na aura ou qualquer coisa do tipo. Talvez, você também. E era quase isso. Quase. E já que já estava arrependido mesmo, fez a última pergunta que restava: “e como eu encontro a grande bicha?”.
- Ela é tão difícil quanto, gato. Pra ganhar acesso à Grande Bicha você vai ter que passar pelas 12 casas noturnas da Boate Cosmus. Já sabe o que te espera, né?, Até porque você já conheceu a Sheyoncé, top, fechosa. Só que ela foi muito boazinha. Dessa vez ela não ter moleza pra você não, meu amor, afinal, haja potencial aí né...
EDIT: o fórum tem limite de caracteres pra postagem, e a história é gigante, então deixo o link pra quem quiser acompanhar os novos capítulos toda segunda:
http://fanfiction.com.br/historia/605371/As_Divassas_do_Zodiaco/
P.S.: estarei atualizando a história todas as segundas sem falta.
P.S(2): agradecimentos à Kane que inspirou uma personagem importante e ajudou como pôde.
P.S.(3): agradecimento especial à Moira que permitiu que eu escrevesse uma história gigante, mas não estava deixando eu fazer uma postagem decente como eu queria até o momento.
Última edição por dijadarkdija em Seg Abr 20 2015, 08:25, editado 4 vez(es)
Re: As Divassas do Zodíaco
Lerei essa bagaça só porquê sou fãgirl de CDZ. ( E a sinopse me fez rir tbm)
Koneko- Ori no Naka no Yuugi
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Localização : Nas terras distantes de Alagësia passando as férias na colina meio-sangue
Re: As Divassas do Zodíaco
Não é só a sinopse que vai te fazer rir, Neko.
Fiquem de olho que segunda que vem tem mais! ;)
edit: Cuidado com o negão.
Fiquem de olho que segunda que vem tem mais! ;)
edit: Cuidado com o negão.
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