O Paraíso de um Ser
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O Paraíso de um Ser
Escrevi essa fic de última hora, mas a história já estava na minha cabeça há um tempo. Trata-se de um capítulo de um futuro projeto de poemas. Pode não fazer sentido,mas o intuito é esse. Trata-se de um fragmento da história. Uma macabra tragédia.
ALERTA: VIOLÊNCIA, MUTILAÇÃO, MORTE
O Paraíso de um Ser
O incansável ruído que ecoava no quarto era como música para seus ouvidos. Uma ópera de sucesso, o musical do ano. A dramática sinfonia da mais renomada orquestra. Um som repetitivo, aparentemente sem fim. Breve, porém intenso. Trágico.
O “ser” sorria maliciosamente. Era o bastante, mas não podia parar. A música não poderia acabar. Não ainda. Aquele era o fim, a sua última cena, o último ato. Quando poderia ouvir novamente àquele som? O mágico e prazeroso ruído do sofrimento. Não eram gritos. Não eram suspiros ou lamentações.
Era o ruído de ossos se quebrando. O gemido da vida se esvaindo. Aumentando mais e mais, fragmentos daquilo que um dia fora um corpo. Uma vida. Agora um simples amontoado de carne.
Subitamente, parou.
Estava cansado. Suas mãos manchadas de vermelho, seu corpo exausto do árduo trabalho. Quantas vítimas fizera naquela noite? Não sabia. Se tivesse contado, certamente desistiria no processo. Não era nenhum tipo de assassino em série, nem um simples ladrão. Era mais do que isso. Sua identidade, no entanto, era desconhecida, enterrada nas profundezas do abismo. Uma alma perdida, suja pela negra tinta do pecado. Um coração apodrecido. Um ser destinado a arder nas chamas do inferno. Mas não se importava com isso. Não se importava com mais nada...
Foram as vozes, não o “ser”. Aquelas malditas vozes que vagavam pela sua cabeça. O seu instinto? Ou talvez estivesse maluco. Não interessava. Estava m mortas, cada uma daquelas pessoas. O “ser” as matara, sem piedade, sem ressentimento, pois era esse o desejo delas. As vozes. Suas eternas companheiras, aquelas que o guiavam. Aquelas que o controlavam. Como uma marionete, um fantoche, um simples brinquedo, o “ser” obedecia. Mas ele tinha escolha? Não.
Respirou fundo. Estava feito. O sorriso ainda estampado no rosto. O sangue molhava todo o seu corpo, impregnando nele o cheiro da morte. O aroma da tragédia, o “ser” inalava com paixão, como se sua existência dependesse daquilo. Entrava em êxtase, seu corpo tremia, o riso era incontrolável. Sentia prazer.
Passou alguns segundos rindo sozinho até voltar a si. Não poderia ficar ali, por mais que fosse um ambiente agradável. Um verdadeiro paraíso. Olhou ao redor uma vez mais. Um quarto escuro e sombrio. Sem móveis, sem janela, sem vida. Apenas corpos empilhados e muito sangue. Havia apenas uma porta no quarto. A única forma de entrar ou sair. O clima era gelado, mas o “ser” não sentia frio. O calor do prazer ainda ardia em suas veias.
Era hora de partir. Mas, como de costume, o “ser” não poderia abandonar o seu palco antes de levar uma lembrança. Era uma mania sua. Um tanto bizarra, talvez doentia. Ajoelhou-se no chão, sujando-se um pouco mais com a poça de sangue. Seus olhos, apesar de não terem vida, pareciam brilhar diante de seu prêmio, sua recompensa depois de tanto trabalho.
Encarando-o, sem vida, uma cabeça.
Os olhos já não se encontravam ali, mas o resto estava intacto. Apenas os seus longos fios loiros encontravam-se manchados de sangue. A cabeça de uma criança, que agora não sentiria mais falta de seu corpo, nem de seus olhos. Afinal, estava morta. O “ser” havia a matado, embora já nem se lembrasse disso. Não era culpa dele, era seu instinto. O seu dever.
Levantou-se com a cabeça da garota entre os braços e caminhou lentamente até a porta. Seus passos eram tortos e desordenados, sua postura era desajeitada. Parecia um zumbi ou talvez apenas estivesse bêbado. Em seu caminho, encontrou muito sangue, muitos corpos, fragmentos de muitas vidas. O “ser” não se importava. Chutava-as, tirando-as de seu caminho, ou simplesmente as esmagava. Era apenas carne, não era?
O “ser” sorria quando chegou à porta. Estava satisfeito, como sempre ficava ao fim de seus serviços. Era a sua única função, o motivo pelo qual existia. Sua vida se resumia à morte dos outros. Mas não tinha do que reclamar. Era a sua verdadeira paixão. Matar. Sua consciência corrompida já não sentia o peso daquelas almas, seu coração já destruído não se comovia com o nada. O “ser” já não era humano. Sua vida já não lhe pertencia há muito tempo.
Girou a maçaneta. Puxou a porta para si. Sentiu brevemente a brisa gelada em seu rosto sujo de sangue. Seus olhos sem vida depararam-se com o ‘mundo’ exterior. Fora daquela tragédia, longe de todas aquelas mortes e punições. Um mundo limpo e inocente, apesar dos pecados escondidos dentro de todos os corações.
Mas não foi isso que viu. Não vira nada mais. Seus olhos já não lhe pertenciam.
Sua vida. Não, nunca vivera.
Sua existência já não lhe pertencia.
No momento em que abriu a porta, o “ser” foi surpreendido por uma veloz e fatal lâmina que o atingiu entre os olhos. Sentiu a dor. Sua alma gritou, mas seu corpo apenas caiu na poça de sangue, silencioso e imóvel. Não havia nada a ser feito, era o fim. O “ser”, que tirara tantas vidas naquela macabra noite, tornou-se também uma vítima naquele horizonte amaldiçoado.
As vozes riram em uníssono.
O novo assassino, o vingador de todas aquelas almas perdidas, adentrou o ambiente. Não parecia se importar com os corpos, não parecia se importar com o sangue e nem com o mórbido clima que pairava no ar. Nada o incomodava, sua missão era outra. Ajoelhou-se ao lado do “ser”. Com a lâmina que usara para dar fim à existência dele, rasgou seu tórax com calma e precisão. Um corte profundo. O sangue jorrou, respingando na capa preta do recém-chegado. Com frieza, guiou sua mão até o buraco no peito do “ser”.
O tesouro escondido na imundice de um ser.
Levantou-se, sujo por toda aquela podridão. Mas não se importava com nada daquilo. Não lhe dizia respeito. Todas aquelas almas, todas aquelas vidas perdidas. Não passavam de pedaços podres de carne. Em breve, eles se desintegrariam. Que marcas deixariam no mundo? Simplesmente desapareceriam, como se nunca tivessem existido. Por que se importar com aquilo?
O assassino retirou-se do quarto com passos firmes e um sorriso de satisfação no rosto. Sua capa negra esvoaçava com a brisa gelada. O ar lá fora era mais puro. Mais vivo. Abandonou aquele horizonte de tragédias, fechando a porta atrás de si. O paraíso macabro, formado por sangue e sofrimento, havia sido finalmente lacrado. O “ser” e todas as almas perdidas, trancadas para sempre naquele inferno, gritavam em desespero. Não havia salvação para eles.
As vozes, cada vez mais distantes...
...Continuavam rindo.
Ririam eternamente...
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