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Mensagem por Beatorisu Ter maio 31 2011, 23:27

Depois de horas achando que o fórum estava me trollando eu finalmente decidir ler a mensagem de erro e aqui estou postando \o\
Fazia tempo que não escrevia algo assim então ... é. .-.
Pseudo baseado em fatos reais. Ou não. Vocês que sabem...-q


Capítulo 1. A única coisa que tinham em comum era o fato de não terem nada em comum

Infelizmente nem sempre, para a desgraça e tristeza da humanidade, o destino colabora. Quase nunca o destino colabora. Mas de vez em quando algo bom acontece. Não será com você, nem mesmo com alguém que você conhece, mas algo bom acontece. Acredite nisso e será o bastante para viver.

Não é nada de extraordinário, nada de incrível, mas é incrível como o parece.

Uma cidade grande. Uma mulher perdida em meio de mais de milhares de outras pessoas. Só mais uma. Sempre mais uma. E qualquer outro que passe por ela num cruzamento de semáforos também é somente mais um. Sua história também merecia ser contada. A história de todo o mundo merecia. Infelizmente, o destino. As bocas que falam, as mãos que escrevem, influenciados pelo destino... Eles decidem que histórias são dignas de serem compartilhadas. Mais do que isso... Ou menos do que isso. Não dignas. Simplesmente histórias que, de algum modo, podem se relacionar com os outros.

Uma mulher como muitas outras. Uma cidade como todas no resto do mundo.
Em sua pequena vida ela acordava todos os dias as 7 da manhã, inclusive sábados, domingos e feriados. Deitava invariavelmente as 21:30 para então dormir as 22 em ponto.
Durante as 15 horas que tinha em seu dia essa mulher trabalhava. Nada muito interessante, era tradutora, somente isso. Ganhava o bastante para morar em um prédio em um bairro bem localizado em um prédio escondido entre uma padaria e um centro comercial. Tomava café da manhã nessa padaria e trabalhava nesse centro e o único momento em que era ela mesma era durante a meia hora que ficava deitada na cama até dormir.

Uma vida comum. Alguém que não espera mais nada do mundo e de quem o mundo nunca quis saber. Nunca saíra, nunca se apaixonara. Não conhecia mais da metade dos prazeres e lazeres que seus colegas diziam ter. Não se interessava e não se importava. Vivia suas 15 horas no dia para a meia hora que esperava dormir.

Ele morava do outro lado do mundo, onde quer que esse outro lado fosse. Sua casa era simples e afastada do centro da pequena cidade em que morava. Da janela de seu quarto podia ver os aviões que chegavam e partiam da cidade vizinha. Tão perto e tão distante de tudo, sempre. Se locomovia de bicicleta e sabia o nome de todos os conhecidos e conhecidos de conhecidos. Gostava de ouvir música de olhos fechados enquanto fingia ver o céu e balançava seu pé esquerdo em um ritmo qualquer que nunca era o que ouvia. A única coisa que fazia era trabalhar de caixa em uma loja de conveniência durante meio período. Nunca foi muito inteligente nem nunca estudou muito. Nunca conhecera muitas meninas e nunca quis.

Outra vida tão comum quanto que contribui para o mundo tanto quanto a primeira. Duas vidas infelizes e felizes ao mesmo tempo. Como saber o que são quando não se sabe nada? Para eles aquilo bastava e isso era ser feliz.
Tudo o que conheciam era o certo e tudo o que queriam conhecer estava bem ali.
Ainda assim, de vez em quando, assim como o destino, em seus peitos algo fazia força para sair. Não sabiam o que era e nunca se interessaram em saber. Ou choravam, ou se cortavam, gritavam, corriam, qualquer coisa que aliviasse aquilo. E aliviava. Por apenas um momento podiam respirar de novo.

Capítulo 2. A única coisa que os separava era a vida.

Geralmente a reação das pessoas a uma morte é a pior possível. Ou pelo menos acreditam que aquilo será a coisa mais dolorosa pela qual passarão. A morte não é sobre o morto, mas sim sobre os que ficam. Aquele que se foi não se importa mais, não tem como. Não. A dor da morte é somente daqueles que vivem, e isso é algo óbvio.

Quando, entretanto, a morte está inserida em um acidente com outras mortes, se torna mais uma. Apenas mais um número na contagem do telejornal das 6. No das 8 não passa de uma morte velha. Os novos números, as novas mortes chamarão atenção até o jornal das 10.
E em relação a todas essas mortes o sentimento de perda é inexistente. Estão tão juntas e fazem parte de algo tão grande que, apesar de todo o mundo saber dela, ninguém se importa. 6 bilhões de pessoas sabem sobre o falecimento. 6 bilhões de pessoas desligam a TV e vão dormir. Ninguém mais sabe quem você é. Nem mesmo aqueles que você conhece.

O dia havia sido como qualquer outro. Entediante. Normal. Eram ainda 19:37. A última vez que olhara o relógio ele marcava 4 minutos antes. A sensação da passagem desses 4 minutos era incrível. Ela não vira as horas as 19:35, mas as 19:33. Um fato tão estúpido que não valeria a pena ser mencionado se não tivesse dado tanta alegria a ela.
Ficara contente com isso porque, há muito tempo, ficava contente com qualquer coisa.
19:40 e não podia deitar.
Encarava a tela do computador procurando em sua mente algo para fazer. Os dedos apertavam letras e delete constantemente. Já havia visitado tudo o que era de costume e agora estava ali, vendo seus olhos ficarem um pouco mais astigmáticos.

Não aguentava mais. Ainda tinha mais de uma hora até poder ir dormir. Uma hora de puro tédio. Não tinha trabalho para fazer nem... Nada.
De repente a dor que sentia em seu peito resolve aparecer. Toda vez que ela volta passam por sua mente as mais variadas ideias de como acabar com a mesma. Por vezes considerou saltar do topo do prédio, ou subir até lá e gritar o mais alto que conseguisse. Pensou em se cortar, em despedaçar um travesseiro, morder a própria mão, um lençol, em quebrar pratos, em telefonar para sua mãe. Algumas dessas ideias já havia posto em prática, mas só fez a dor voltar mais constantemente e o custo benefício simplesmente não valia a pena. Então ela derramava algumas lágrimas. Abafava o choro e voltava para a programação normal.
21:23. 7 minutos ainda. Resolveu ligar a TV por esse breve tempo, talvez passasse mais rápido. Passaria.

Como estava frio sentou no sofá e se cobriu com uma manta que mantinha por ali. O controle estava gelado e não queria manter suas mãos longe da manta por muito tempo. Deixou no canal que estava. Qualquer programa de utilidades. Não se importava. Olhou para o relógio na parede. 21:27.
Afundou-se um pouco mais na esperança de que ficasse quente. Comercial. 21:29. Interrompe a programação.

Um acidente. Um desastre natural qualquer de grande escala do outro lado do mundo. Contabilizados até agora 700 mortos e mais de 1000 desaparecidos. O número só aumentaria. E aumentaria.
Encolheu-se mais um pouco, dessa vez na esperança de que estivesse se protegendo, que ao fazer isso alguém seria encontrado com vida e a vida seria um pouco melhor. Ficou ali. 21:30. Permaneceu ali sozinha com a luz da TV, a voz do homem que falava e as lágrimas que rolavam pelo seu rosto quente e vermelho.
00:00.

Capítulo 3. A única coisa que os unia era um laço invisível e inominável.

Ele não sentiu a morte vindo. Estava como em qualquer outra manhã, deitado em sua cama ouvindo música e balançando o pé em qualquer ritmo. Fingia estar vendo o céu e imaginava os aviões cruzando as nuvens. Estava em sua rotineira paz silenciosa que o fazia feliz.

Toda a cidade fazia suas atividades normais porque o dia de hoje era exatamente como o dia de ontem, inclusive nos calendários não ajustados. O dia mal havia começado e já ia passando. Indo.
Quase ninguém sentiu a morte. Quase ninguém pode rezar para qualquer que fosse a crença. Ninguém se despediu, ninguém chorou, ninguém tentou sobreviver.
A nenhum deles foi dada a chance de imaginar.

Morreram. Uma hora não estavam mais ali. Ali somente água, terra, lama e o resto do que um dia tivera vida.

Estava com frio, mas não havia ido para a cama. Ficara ali o tempo todo encolhendo-se na manta, vendo noticiários um atrás do outro. Não se importava com suas mãos e elas mudavam de canal toda vez que um jornal acabava em busca de informação. Em meio a tudo isso cochilara algumas vezes quando a programação pareceu voltar ao normal.
A gola de sua roupa estava molhada, seus olhos ainda estavam molhados e podia sentir seu rosto ainda queimar.

Porque se importava tanto? Com o que se importava tanto?

Saiu para o trabalho como qualquer outro dia. A dor que havia voltado desde ontem ainda não havia ido embora e não iria por algum tempo.
Fez o que lhe fora pedido, como sempre. Ao 12 não almoçou. Voltou ao trabalho, comentou com os colegas o que todo o resto do mundo parecia comentar, sempre forçando as lágrimas a retornarem para dentro. Voltou para cada e dessa vez deitou as 19. Ficou procurando noticias até a hora em que cochilava e acordava novamente.

Durante uma semana foi desse jeito.
Durante dias foi desse jeito.

Sem fazer ou afirmar qualquer crença, ele simplesmente acordou. Viu-se ali onde estava e viu tudo a sua volta. Podia não ter estudado nem ser inteligente, mas sabia que estava morto. Sabia.
Não existe uma maneira de se comportar após a morte. Ou existe? Até morrermos não tem como saber. De qualquer modo ele estava ali. E viu a sua volta tantos outros que também olhavam a suas voltas.

Assim como a história de uma vida é insignificante para ser contada, também o é a dos mortos. O que faz da morte dele digna de ser repetida? Nada. Ou talvez o fato de que sua morte ainda se ligava com a de alguém em vida. A de muitos ali se ligavam.

Com um tempo se situavam e se reconheciam. Iam até uns aos outros e suas coisas. Partiam e viam partir. E ele ali, parado. Não tinha lugar em lugar nenhum.
Até que a dor que tantas vezes sentira durante vida sem explicação nenhuma, vinha agora durante a morte. Levou sua mão a seu peito e olhou para o céu. Fechou os olhos e fingiu ver as nuvens enquanto ouvia uma música sem melodia.
Alguém chorava por ele.

Capítulo 4. A única história de suas existências

Seu estado começava a preocupar aqueles que conhecia. Durante um tempo é fácil disfarçar até que uma hora torna-se impossível. Menos de um mês depois ninguém mais falava naquilo. O acidente havia passado, os números haviam passado e muito e tudo estava no passado.
O que não queria ir embora de modo algum junto com o fluxo das coisas era a dor e as lágrimas.
Não sabia porque ainda chorava nem porque criara uma nova rotina. Mas pela primeira vez se importava com aquilo.

Algo a incomodava.
Algo o incomodava.

Devido a todas e várias circunstâncias demasiado complicadas e compridas para explicar, ele percebeu primeiro. Percebeu que tinha de ir para algum lugar. Percebeu que a música silenciosa que ecoava em sua mente vazia tinha o som de lágrimas. Percebeu que podia e devia achar quem estivesse compondo a melodia mais bonita que já havia escutado.

Não existe ciência ou lógica que possa explicar a relação. Ele estava ali parado olhando para a mulher que parecia chorar cada vez mais.
Ela já não ia mais ao trabalho haviam 2 dias, tinha recebido licença. Sobrevivia de capucino e de si mesma. De repente vira seu mundo cair de maneira inconcebível. Toda sua estabilidade havia morrido com aquele acidente.

Ele permaneceu ali até que a dor que sentia começou a transformar-se em desespero. Em um desespero que jamais havia sentido antes. Um desespero... feliz. Precisava estar perto dela, estava perto dela, queria ficar para sempre a seu lado. Toda a necessidade da dor de ir embora agora era uma razão para ficar.
A dor dela não se transformou tão rápido, mas aos poucos, quanto mais a dor dele se aproximava da dela, mais tranquila ficava.

Voltou ao trabalho e ele ia junto. Passou a ir a outros lugares, e ele ia junto. Comprou coisas, viu lugares, e ele a seu lado.
Não estava feliz. Não poderia estar feliz pois a dor ainda estava ali. Sabia e sentia que uma parte de si havia morrido naquele dia e toda vez que pensava nisso tinha vontade de chorar. E ele estava ali para ver suas lágrimas.
Uma relação doentia. Uma relação de paciência.

Ninguém pode prever a morte. Seja ela por acidente ou por doença crônica. Ninguém pode dizer ao certo quando ela vai chegar. Ela simplesmente vem e não a percebemos. Nunca estamos preparados para morrer por nunca podermos saber quando acontecerá.

Sentia seu corpo doer, mas não sabia porque. Tudo estava tão frio e e escuro... Abriu os olhos e foi cegada pela claridade do que julgou ser o sol.
Viu um sorriso em sua frente. Viu seu corpo a seu lado. Sentiu a mesma dor de antes transformar-se na alegria que ele havia sentido há muito tempo.

Não foram necessárias palavras. Eles sumiram. Ninguém os havia visto, tudo seguia conforme devia. Uma mulher atropelada por motorista descuidado. Seus colegas ficaram tristes, um funeral simples, alguma família. E toda a dor dos dois permaneceu no mundo que é de dor. A vida que os separava havia acabado anos e anos depois da história começar.

Quantas dores mais existirão nesse mundo?
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Mensagem por Yukito Qua Jun 01 2011, 14:13

Bonito, Bea, muito bonito.
Adorei esse estilo de escrita. Simples, porém tocante. Sem detalhes, sem nomes, sem complicações. Tudo parece fluir naturalmente, além de passar toda a emoção que supostamente deveria passar.

Saquei a referência e gostei bastante de como foi usada. Aliás, a perspectiva da vida dos personagens também ficou bem explorada.

A última frase foi genial.

Parabéns, ficou realmente ótimo Unic ~ 348201
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Mensagem por Wispyweed Sex Jun 03 2011, 20:31

Por que eu ia ficando cada vez mais "Unic ~ 460252" enquanto eu lia, hein, Bea? Por que? ;;

Enfim. Amei <3 Não dá pra explicar. Simplesmente... Amei ;;
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Mensagem por Nati Seg Set 30 2013, 21:16

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Parabéns muito linduuuuu!!!!!
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